Era uma vez uma leoa que era domadora de leoas. Ela deu à luz uma pequena leoa que também é domadora de leoas. As duas se juntam no picadeiro para brincar, e o chicote e as garras entram em ação.
Cecilia é mandona; eu sou controladora. Eu sou ordem; Cecilia é anarquia e provocação. Nossas brincadeiras juntas são o exato retrato de duas domadoras que tentam domar uma à outra, leoas que são.
De um lado, uma menina que sempre opta por jogar as regras no buraco, subverter o que se espera da brincadeira, ora porque não quer perder, ora pra se divertir anarquicamente.
Se é pescaria, ela troca as varas e, logo, também os peixes pescados. Se é duelo de bruxas, ela nunca sucumbe a nenhum feitiço porque também é superperolina e etc etc. Se é corrida ela sempre fala já, sai na frente e muda o ponto de chegada quando fica em segundo.
Tudo isso com um sorriso gaiato no rosto, porque a leoa domadora Cecilia tem o espírito livre e perturbador de Pippi Meialonga.
O problema – não pra ela, que tem quatro anos, mas pra mim que sofro – é que eu, desde menina, guardo as roupas das bonecas por ordem de cor. Leio as regras dos jogos nas caixas. Catalogo coisas e coleciono mementos.
Aos mid-30’s tenho enfrentado o processo de reaprender a brincar, para brincar com minha filha.
Aqui em casa eu sou Wendy, e Cecilia é minha Peter Pan. Tenho ainda algum tempo para me ajustar à nossa terra do nunca particular, porque a criança, aqui, não sou eu, e o brincar é dela (ainda que às vezes – muitas vezes – também seja meu).