
Na escola, Cecilia está trazendo a cada sexta-feira um livro da biblioteca volante da turma. A tarefinha consiste em uma contação de histórias, seguida por uma contação da criança (registrada pelos pais) e por um registro em desenho pela criança.
Na primeira semana contamos João e o pé de feijão, um favorito aqui em casa. Mas eis que na segunda semana nos chega Branca de neve e os sete anões.
*merdaputaquepariueagora?*
Lá vamos nós. Cecilia não conhecia a história (por razões óbvias pra quem visita o blog), e eu li, confesso, com ~pouco~ menos entusiasmo que as outras. Chegamos à hora em que moça Branca come uma maçã, fica deitada numa caixa de vidro e… E… “Ela tosse, cospe a maçã que estava presa na garganta e acorda!” E só então aparece um “moço legal” de quem ela gosta. “E fim.” Era o mínimo que podia fazer pela dignidade da trouxa inútil da Branca.
Chega então a hora de Cecilia contar a história. Pergunto “Então, o que a Branca de Neve faz?” e automaticamente me dou conta de que ela não faz nada.
A rainha a persegue; o caçador a poupa; os anões a escondem; o príncipe a beija.
Ok, estou sendo injusta. Branca faz duas coisas: foge e depois faz trabalho doméstico para os anões. No mais, ela só é. E o que a dita cuja é? Bonita. Bo-ni-ta, minha gente.
Então é isso. Essa é a história da moça que era muito bonita, causou inveja em outra mulher, precisou da bondade do caçador, limpou a casa dos anões, foi trouxa, quase morreu e precisou de um príncipe ex-machina pra salvá-la porque nem isso, né?!
Se for pra depender da bondade alheia masculina assim, prefiro que Cecilia conheça outra Branca, DuBois.
Pro futuro, fica uma outra versão, muito mais provocadora (e generosa com a madrasta), de Neil Gailman, Neve, vidro e maçãs.
PS.: Na semana seguinte recebemos de *presente* Cinderela, e eu fiz o possível para me concentrar na música da versão Disney (que Cecilia adorou aprender e canta pela casa muitas e muitas vezes). Melhor pensar em bibidibobidiboo.